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sexta-feira, 8 de abril de 2011

NO TRIBUNAL

O pleito consistia num pedido apresentado pela Silvia Gomes ao Francisco Dias de uma indemnização por ofensa ao seu bom nome, quando este a abordou em plena via pública, fazendo-lhe, alto e bom som, um insistente convite para irem ambos passar a tarde num hotel da linha do Estoril.
A D. Gertrudes, mulher muito ligada à Igreja, solteirona e cumpridora dos deveres religiosos, era conhecida como senhora púdica, casta, puritana. Foi testemunhar ao Tribunal por parte do demandado Francisco Dias. Ia abonar o seu comportamento respeitador, habitualmente educado e incapaz de ofender fosse quem fosse.
O Juiz, antes de a mandar sentar, perguntou-lhe o nome, se tinha alguma relação de parentesco ou outra com o Sr. Francisco Dias e se jurava dizer a verdade, só a verdade e nada mais do que a verdade.
A testemunha jurou dizer a verdade e o Juiz antes de a mandar sentar esclareceu que ela tinha sido arrolada pelo réu, informando-a que deveria responder com verdade às perguntas que os Srs. advogados lhe iriam fazer.
- Arrolada eu?!, vociferou a D. Gertrudes, indignada...
- Olhe Sr. Dr. Juiz, com a idade que tenho, só fui arrolada duas vezes, que sou pessoa séria e decente, já há muitos anos, e em nenhuma delas o fui pelo Sr. Francisco!
E, apontando o dedo à Silvia:
- Quem é arrolada quase todos os dias é ali aquela, por qualquer um que lhe apareça. Toda a gente sabe disso lá no bairro. Ela arma-se em séria, mas toda a gente sabe que é uma maluca que dá a volta à cabeça dos homens, deixando-se arrolar por novos, velhos, casados, solteiros.. O que vier...
Rui Felicio

quinta-feira, 7 de abril de 2011

CURA MILAGROSA


As pequenas melhoras, quase imperceptíveis, que se notavam passados dois meses, estavam longe de terem resolvido o problema. Farta de gastar dinheiro em pomadas, sem resultados palpáveis, ainda com a cara cheia de borbulhas, desabafou com uma amiga que lhe disse a rir, com ar de gozo:
- Tu precisas é de arranjar um namorado! Vais ver que isso te passa em três tempos... Voltou ao dermatologista, mostrou-lhe a ineficácia dos medicamentos e, meio envergonhada, mas disposta a tudo para descobrir a cura, contou-lhe o que a amiga lhe tinha dito.


O jovem médico que, desde a primeira vez que a viu, não conseguira esquecer a beleza física daquela rapariga, apesar do problema da pele, confessou-lhe como se sentia atraído por ela e que gostava que ela o aceitasse como seu namorado.
A Inês aceitou o pedido, mais como uma derradeira panaceia para o seu mal, do que propriamente porque o médico a atraísse.
Namoraram, o acne começou visivelmente a melhorar e acabaram por casar. Nos primeiros tempos de casados, a pele da Inês estava praticamente curada! Mas voltava a piorar sempre que o marido tinha que se ausentar por alguns dias para ir ao estrangeiro a Congressos de Dermatologia.
Quando ele regressava a pele tinha voltado a encher-se de borbulhas. Que logo desapareciam depois de alguns dias de convívio conjugal. A relação causa e efeito começava a delinear-se...
Sempre assim acontecia. Melhorava quando o marido estava em casa e piorava na sua ausência!
Um dia o marido avisou-a que teria que ir a um Congresso na China, mas que desta vez iria estar ausente por quase um mês!


E, no dia da partida, olhava ela o carro dele a afastar-se na esquina da rua, em direcção ao aeroporto, foi surpreendida pelo belo filho do dono do minimercado do bairro que lhe disse:
- Olá Inês, queres provar um dióspiro? O meu pai comprou umas caixas deles que tem lá no supermercado para vender.
- São uma delícia! – disse ele estendendo-lhe um que trazia na mão...

Ela puxou-o bruscamente pelo braço, meteu o rapagão dentro de casa, fechou a porta e disse-lhe, com ar ansioso e provocador:
- Sim quero! Durante um mês, quero todos os dias um, pelo menos!


Quando o marido regressou ao fim de um mês, ficou espantado :
- Desta vez, apesar da minha longa ausência, a tua pele está impecável, sem marcas, sem borbulhas! Pareces estar curada, definitivamente!
- Pois é querido. O que me curou foram os dióspiros que diariamente tenho comido...


Rui Felício