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terça-feira, 27 de agosto de 2013

EQUÍVOCO


As pontas dos lençóis arrastavam pelo chão em desalinho, a fronha da almofada ao seu lado ainda continha a concavidade da cabeça do Paulo. E até o seu cheiro suave, característico.
Fitando o tecto, saciada e feliz, ela sentia ainda, no lençol debaixo da sua perna dobrada, a humidade e o calor dos suores dos corpos.
A Beatriz era uma mulher madura, mas os anos não lhe tinham destruído a beleza e a fogosidade. Sentia-se ainda suficientemente atractiva aos olhos dos homens. Mesmo quando tinham menos vinte anos do que ela, como era o caso do Paulo.
Ele já tinha saído há umas duas horas, mas ela mantinha-se deitada. Não lhe apetecia sair da cama, queria prolongar o prazer daquela madrugada de sonho, reviver tudo, semicerrar os olhos e visualizar por entre a névoa da fantasia o seu rosto atraente, o seu corpo viril, o seu abraço carinhoso.

De súbito, a campainha tocou.
Esperou que a Natália, a sua enteada fosse abrir.
A
campainha retiniu com maior insistência. Ninguém fora abrir a porta.

A Natália já deve ter saído, pensou a Beatriz.
Contrariada, despertou da letargia em que se encontrava, enfiou à pressa a camisa de noite e estugou o passo até à porta.
Abriu, perscrutou com o olhar para um lado e para o outro, mas já não estava lá ninguém.
Já ia fechar a porta quando reparou, no chão, ao lado, um belo ramo de rosas com um cartão.
Sentiu o coração bater desordenadamente, cheia de felicidade, pela delicadeza do Paulo ao oferecer-lhe, em sinal de amor, aquele magnifico ramo de flores.
Pegou no cartão perfumado que as acompanhava e leu:

“Para a Natália, grande amor da minha vida, com mil beijos do Paulo.”
Rui Felicio

8 comentários :

  1. Devo confessar que a 1ªparte desta narrativa se assim lhe posso chamar, agradou-me de sobremaneira, prendendo-me sofregamente à leitura da mesma!
    Mas como já nos vais habituando em alguns dos textos que escreves...o que parece, não é...e foi precisamente o que aconteceu mais uma vez! Tinhas que "estragar" o happy end que se vislumbrava! Até estou com raiva...contra mim mesma, pelo entusiasmo que desperdicei com a leitura da dos primeiros parágrafos, e contra a Beatriz, por acreditar que ainda há homens que oferecem flores!!!!!

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  2. Maravilha de texto, sempre agradável de reler (em 16/11/2011, saíu n'a funda São com o título «Amor e Rosas»)

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    1. Na verdade escrevi este texto em 2011 e a São Rosas estava atenta, como sempre.
      Já não tenho a certeza, mas suponho que o titulo é que foi mudado pela São Rosas para publicação no seu blog A Funda São, embora sem qualquer modificação ao conteudo do meu texto.

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  3. Eu ainda quero acreditar na Utopia, no amor franco e entregue, na honestidade! Mas, não!!!
    Deliciei-me com a narrativa de amor, que toca sempre o coração de uma Mulher, porque crédula e frágil, e eis senão quando, de repente, num ramo de rosas vermelhas a cobra venenosa da dualidade deixa tombar as suas pérfidas palavras, finalmente desvendada a facada nas costas de Beatriz, dada afinal...por ambos!
    Mas porque será que os homens, de um modo geral, gostam tanto de brincar com o fogo, usando a mulher para seu bel-prazer, sem atenderem aos sentimentos subjacentes nela?
    Penso que hoje em dia elas também já aprenderam bem a lição e estão, ao desafio, a seguir os didácticos Mestres!...E bem hajam se o fizerem!...Veja-se só esta sonsa Paula!
    Esta é a minha pequenina vingança por estas rosas tombadas para a Paula e não a Beatriz!...
    Por favor, Rui Felício, ao menos uma vez deixe o conto ter um "happy end"
    ou um final previsível! É que, quando começo a ler, fico logo com fervilheiros de nervoso, como se à espera de ver o fantasminha inesperado!...

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Peço imensa desculpa, Rui Felício, mas já tombava de sono quando escrevi o comentário e, em vez de Natália, escrevi Paula e não sei se há maneira de alterar o texto, emendando-o! Perdoe-me esta confusão e leia-o com a substituição dos respectivos nomes!...

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  6. Ja tinha dado pelo engano mas preferi nao fazer nenhum reparo porque, importantes sao as consideraçoes que tece a proposito, cara Maria Mesquita, meu estranho, doce e oculto enleio que ns bruma da noite aqui vem verter a sua escrita escorreita...

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  7. Sou a Dama da Noite, que se escuda atrás das brumas do mistério para, modestamente, ir tecendo umas frases que cativem o seu enorme domínio da língua portuguesa e a sua imaginação fértil e sui-generis. Fico-lhe muito agradecida por, charmoso que deve ser, me ter considerado "seu estranho, doce e oculto enleio", o que me fez sorrir pelo cavalheirismo com que se referiu a mim!...Mas, por favor, não me teça loas desmerecidas!

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