Web Analytics

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

INTRUSO

Ia amanhecer...
Ela dormia e parecia em paz, depois de uns minutos antes ter sussurrado durante o sono, o nome do Paulo, o homem que amara e com quem vivera durante muito tempo.
Tinham-se separado há uns anos mas ela nunca deixou de o amar. Mesmo em sonhos, a imagem dele, a recordação dos bons momentos que viveram juntos, estava sempre viva, como uma melancólica obsessão, no rosto lindo da Fernanda.
O Carlos, agora ali deitado ao seu lado, sentia-se um estranho, um intruso, na intimidade que não lhe pertencia, que ainda era só dela e do Paulo.
Se fizesse o que a vontade lhe dizia e beijasse aqueles lábios entreabertos, na esperança de que ela acordasse com o mesmo desejo que a invadia quando dormia com o Paulo, como poderia adivinhar qual seria a sua reacção?
Se afastasse os lençois e lhe beijasse o corpo, como iria saber se na cabeça da Fernanda isso não surgiria como gesto de outro homem, daquele afinal que ela nunca esquecera?
E, se em vez disso, ele a acordasse mesmo e, simplesmente, lhe confessasse o enorme desejo que o estava a dominar, como se sentiriam ambos se ela lhe dissesse que não, que não tinha vontade?
Acariciou-lhe o cabelo, primeiro ao de leve, depois com maior firmeza, percorrendo com o polegar o rebordo da orelha, a seguir o pescoço, o ombro, as costas.
Tocou com os lábios na sua testa, deixou-os lá, e com um sopro cálido afastou-lhe os cabelos que lhe caíam em desalinho sobre os olhos fechados.
Fazia-lhe pequenas festas no rosto com uma das mãos e com a outra acariciou-lhe a anca.
Ela dormia ainda, mas ele sentiu o seu corpo mexer-se, contrair-se...
Beijou-lhe o lábio inferior e disse-lhe baixinho que queria amá-la.
- Hummm, ainda não estou bem acordada, disse ela.
- Esse Hummm quer dizer apenas que não queres que te acorde, ou significa que seria bom para ti?, perguntou ele.
- Quer dizer que será muito bom, respondeu ela.
Beijaram-se longamente, ela pegou-lhe na mão e fê-la deslizar da anca para a barriga.
Durante muito tempo foram cavalgando o desejo com mais desejo, crescendo incontrolado até ao êxtase.
Por fim, serenaram saciados, ofegantes.
Feliz, o Carlos tentava, contudo, adivinhar se o Paulo tinha estado ali entre eles.

Rui Felicio

12 comentários :

  1. Maravilha!
    Este é um Conto Mais Que Felício.

    ResponderEliminar
  2. Lindo, este teu conto, que já demorava, Rui. Como sempre erótico e com "ses". Nestes momentos, deixemos as hesitações e para a frente, é o caminho - "que seja infinito, enquanto dure! Obrigada. Beijinho.

    ResponderEliminar
  3. Obrigado
    Aliás, Paulo Moura...
    Mera coincidência, diga-se

    Rui Felicio

    ResponderEliminar
  4. Só a Fernanda poderá esclarecer se foi um encontro a dois ou a três...
    Seja como for, mais um excelente conto que poderá integrar "contos felícianos"

    ResponderEliminar
  5. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderEliminar
  6. Feliz não estaria....satisfeito sim.
    Porque se estivesse feliz, nunca o Carlos poria a hipótese de o Paulo estar presente mentalmente num momento tão intenso do casal!

    ResponderEliminar
  7. Gostei muito , Rui. E espero, já que o conto é uma narrativa aberta, que o Carlos e todos ou outros Carlos, saibam surpreender sempre as suas " Fernandas " para que os fantasmas do passado não tenham força para assombrarem o presente.

    ResponderEliminar