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segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

LAÇOS SAGRADOS

Ia trémula, bela, elegante, de vestido branco. Tentava disfarçar o sal de uma lágrima furtiva com um meio sorriso indefinível.  
A Filipa tinha demorado muito a decidir-se! Ela bem sabia que era um passo daqueles que marcam uma vida, mas agora, vencidas todas as indecisões, caminhava lentamente pela ampla e infindável álea, em passadas cadenciadas, nervosa mas resoluta. Nada a faria recuar!
Apoiava-se no braço do pai, de cabelos grisalhos, elegantemente vestido, que a conduzia e lhe incutia confiança, apertando-lhe firme e suavemente a mão para lhe dar força.
Todos os olhares se dirigiam para ela, acompanhando-a, admirando-lhe o rosto tenso, emocionado, de uma profunda beleza. Ouviam-se comentários sussurrados à sua passagem.
Quando a Filipa viu o José ao fundo do corredor, de fato azul escuro e gravata cinzenta, irrepreensivelmente penteado, à espera que ela se aproximasse, o coração acelerou e chegou a pensar, no último momento, libertar-se do braço do pai e fugir, mas reconheceu que isso seria uma infantilidade. Agora que tudo já estava decidido!
De resto, a Deolinda, sua grande amiga e confidente, tinha-lhe dito que no principio ela ia achar estranha essa radical mudança de vida, mas que depressa se habituaria.
A silhueta elegante daquele belo homem que a aguardava, fazia-lhe disparar os pensamentos mais confusos. Foi àquele homem que dera o seu primeiro beijo, foi com ele que passara momentos de enorme felicidade, de quem foi amiga, namorada, amante, e com quem, pela primeira vez, experimentara os prazeres do amor e da paixão.
Tiveram os seus pequenos arrufos, como qualquer casal de namorados. Por vezes discutiam, é certo, mas diziam-lhe que isso era normal.
O pai libertou-se suavemente do seu braço, beijou-a com ternura e desejou-lhe a maior sorte do mundo na vida que agora iria iniciar, deixando-a ao lado do José.
Ficaram ambos de pé, hirtos, tensos, silenciosos, em frente ao Juiz que os aguardava para decretar o divórcio previamente negociado. Lá fora, a Deolinda esperava pelo José ...
Rui Felicio

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