Web Analytics

domingo, 24 de fevereiro de 2013

INJUSTIÇA E DOR

Sentado à lareira, contemplo as brasas incandescentes, o crepitar dos troncos, as labaredas a lamber as paredes de tijolo.
Discorro sobre a justiça.
Não sobre aquela que os humanos desenharam e construiram que é composta pela dialética, pelas provas e contraprovas, pelos argumentos e pelos formalismos em que, queremos acreditar, na nossa presunção e na nossa ignorância, hão-de conduzir ao apuramento da verdade.
E ao consequente castigo dos culpados.

Não, não é sobre essa que me questiono!
Porque sabemos que essa justiça, na sua génese, padece do pecado original da imperfeição humana.
A justiça em que penso é outra, é a ideal, é aquela em que a infalibilidade deveria imperar, indicando-nos as causas e as razões das coisas.

É um raciocinio feito ao contrário, aquele que desenvolvo.
Em que parto do castigo já aplicado para perceber a sua razão de ser, para conhecer os factos que a ele conduziram.
Sem respostas, pergunto, choro, grito revoltado, olho retrospectivamente os acontecimentos, procuro neles um fio condutor, uma lógica.
Mas nada!

Sinto-me impotente para entender o que me sucedeu.
Disponho-me a assumir as minhas culpas se as houve.
Sujeito-me à punição mais severa, em troca desta que me foi dada sem qualquer explicação, sem nenhuma acusação sequer.
Abdico até da minha defesa se necessário for.
Mas imploro a misericórdia da substituição da minha pena!
Que impiedoso universo é este que pune sem julgar?
Que deplorável justiça é esta que, sem a menor explicação, me levou o meu filho na idade dos sonhos?

Rui Felicio

3 comentários :

  1. Boa iniciativa!
    A ternura da tua amiga Olinda está a acompanhar-te num momento tão doloroso.

    ResponderEliminar
  2. Um testemunho profundamente comovente, vivido, dolorosamente sentido, inteligentemente interrogado, em desespero de causa!
    Ninguém pode ficar indiferente a um texto destes, tão pungente quanto desesperado da justiça que impera sobre os seres humanos!
    Ninguém pode conter as lágrimas, porque todos nós temos situações idênticas, ou não, mas que nos marcam de maneira cáustica e mudam para sempre o rumo da nossa visão do Mundo!
    Estou consigo, Rui Felício, neste momento de estupefacção por este descomunal golpe desferido por um Destino, que é sempre uma incógnita!

    ResponderEliminar