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segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

FUI GUARDA-REDES DE HOQUEI

Nunca consegui aprender a patinar, embora o tivesse tentado algumas vezes..
Em miudo, joguei hóquei muitas vezes no bairro, mas com troços de couve e com os bueiros a servirem de balizas.
Mas nessas partidas os jogadores não andavam de patins.
Anos mais tarde, em 1967, eu era dirigente da Secção de Ténis de Mesa da Associação Académica, e por isso convivi bastante com a malta das outras secções desportivas, entre as quais a de Hoquei em Patins.
Havia um grupo muito ligado a essa modalidade na Rua do Brasil. Certo dia, combinaram ir assistir a um jogo que a Académica ia disputar fora, com o Minas da Panasqueira.
Só já me consigo lembrar do Chichorro que integrava esse grupo e que, tal como eu, tambem alinhou nessa viagem de apoio à Briosa.
Saíram de Coimbra uns seis carros, onde viajaram os jogadores, directores e acompanhantes, distribuídos aleatoriamente por cada um deles. Os primeiros dois carros a chegar, transportavam quatro dos jogadores da equipa, um director, os equipamentos e eu próprio.
Enquanto não chegavam os restantes carros, os jogadores foram-se equipando e a hora do jogo foi-se aproximando. O atraso na chegada dos outros quatro carros começou a tornar-se preocupante e com razão.
Naquele tempo não havia telemóveis para sabermos o que se passava. De facto, o jogo iria iniciar-se daí a uns dez minutos e era preciso a equipa apresentar-se com pelo menos cinco elementos.
Faltava um, portanto.
Seria uma vergonha a Académica entrar em campo desfalcada. Repentinamente, dei comigo a ser olhado insistentemente por todos os presentes no balneário.
- Amigo Felício, tens que jogar enquanto o resto da malta não aparece! - disse um
- Eu nem sei andar de patins!
esclareci eu abrindo os braços
- E tenho medo de levar alguma bolada! acrescentei temeroso...
Um a um todos me apresentaram argumentos para me convencerem a alinhar:
- Que para estar à baliza não é preciso saber patinar, que basta estar apoiado nas pontas das botas, que as caneleiras e a máscara me protegeriam das boladas, e, argumento decisivo face ao meu amor à Briosa, que eu certamente não quereria deixar a nossa Académica passar pela vergonha de entrar em campo só com quatro jogadores.
- Poderia até ser considerada uma ofensa ao Clube local e gerar algum incidente desagradável com o público!
Acedi, embora contrariado. O bom nome da minha Académica estava em primeiro lugar.
Entrei no ringue a abarrotar de público, de braço dado com dois dos hoquistas da Académica que, fingindo conversar comigo me iam disfarçadamente amparando, um de cada lado, para eu não me desiquilibrar.
Por ordem do juiz da partida as equipas alinharam no meio do ringue em frente à bancada central e quando o seu apito soou, automaticamente todos os jogadores se perfilaram com os braços estendidos ao longo do corpo, para saudarem a assistência.
Foi nesse exacto momento que, deixando de ter o amparo dos meus colegas, comecei lentamente a deslizar, e cambaleando, ganhei gradualmente maior velocidade em direcção à tabela do campo à minha frente.
Poucos segundos depois estatelei-me contra a vedação, saltando-me stick e caneleiras...
Ainda ouvi um espectador gargalhando, gritar:
- Eh pá os gajos nem sabem andar de patins!
Lá me levantaram e conduziram para a baliza, onde me agachei envergonhado e pedindo aos deuses para que o jogo terminasse depressa.
Joguei a primeira parte toda. Perto do intervalo tinham chegado os outros carros. A mudança de uma roda de um deles que tinha furado, fez atrasar a comitiva.
Sofri apenas cindo golos!
Não sofri mais porque nalguns remates não consegui desviar-me a tempo...
Rui Felício

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